Comunidades tradicionais

Planejamento Afrorrural Quilombo Mesquita – escalas para a preservação territorial e identitária

Mariane Paulino

As Comunidades Remanescentes de Quilombo sofrem as consequências socioculturais de um processo de invisibilidade secular no que tange a preservação da sua memória, identidade e território, onde o contexto histórico e socioeconômico corrobora com uma realidade que estigmatiza e marginaliza esta população. 
O Quilombo Mesquita, localizado em sua maior parte no município da Cidade Ocidental, obteve sua certificação como território remanescente quilombola em 2006, contudo o processo de titulação não concluído contribui para a fragmentação e ocupação por não-quilombolas deste sítio histórico. E observado o contexto das comunidades afrorrurais, onde relação com o território consolida as relações, tradições e o modo de vida este trabalho tem com objetivo pensar o território delimitado pelo INCRA em um trabalho conjunto com a comunidade através de processo participativo.
Realizado dentro do grupo de pesquisa Periféricos, envolvendo os membros da comunidade como atores deste processo, temos como resultado um planejamento do território – em duas escalas – pensando na reintegração deste pela população quilombola, visando a preservação da memória e patrimônios culturais deste povo.
 

Equipamentos e infraestrutura turística - Sentido Kalunga

Talita Maboni
PROBLEMA/DEMANDA

Buscando atender a uma demanda real, o projeto se desenvolveu no povoado do Engenho II, pertecente ao Quilombo Kalunga, localizado na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.
O quilombo Kalunga é o maior do Brasil em extensão territorial e foi tombado como Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga. Por ser a portaria de entrada para diversas cachoeiras como a Santa Bárbara, Capivara e Candaru, e devido à sua especificidade natural e singularidade cultural, o Engenho II tem no ecoturismo uma importante fonte de renda e precisa ser bem estruturado para receber a atividade, entretanto, a infraestrutura existente ainda é muito precária.  
OBJETIVO
Assim, na busca de uma arquitetura que garanta a sustentabilidade em todos os seus aspectos sociais, ambientais econômicos e culturais, este trabalho demonstra o processo de projeto para a construção de infraestrutura turística e equipamentos comunitários no Engenho II.

Delimitou-se um núcleo de intervenção onde foi proposta a criação de um Centrinho Cultural que materializa a história e o modo de vida Kalunga, conectando elementos comunitários já existentes com os propostos, além de qualificar áreas verdes com intervenções paisagísticas. O centrinho é voltado para o turismo dentro do Engenho, criando um circuito entre as edificações tais como o Espaço da Memória Kalunga, a Casa de Farinha, de algodão e cana, o parquinho, a feirinha e a loja de produtos quilombola, o palco para apresentações culturais, a biblioteca comunitária, o novo CAT e a réplica da casa Kalunga, todas com o objetivo de incentivar o turismo cultural na comunidade e desafogar o ecoturismo concentrado nas cachoeiras.
METODOLOGIA
Primeiramente, foi feito um estudo teórico das comunidades quilombolas a partir das pesquisas conduzidas pelo professor Dr. Rafael Sanzio Araújo dos Anjos. Em seguida, foram realizadas pesquisas acadêmicas para o entendimento do contexto histórico e social do Quilombo Kalunga, tendo a pesquisa da professora Alessandra D’Aqui Velloso “Mapeando narrativas: uma análise do processo histórico-espacial da comunidade do Engenho II” (2007), como principal fonte sobre o processo histórico-espacial do Engenho II. É preciso compreender quais as relações que se estruturam nesse espaço e como os moradores se relacionam com determinados espaços e contextos. Assim, logo se percebeu a dialética nos impactos do turismo e a existência de conflitos, justificando-os com o materialismo dialético de Karl Marx.
Através de relatos orais e conversas informais com moradores mais velhos foi possível aprender um pouco sobre a história do quilombo contada pelo seu próprio povo, contribuindo para o reavivamento da memória coletiva através da oralidade. Além disso, foram elaboradas perguntas chave que contribuíssem para o entendimento da infraestrutura e atividades locais, com ênfase em dados socioeconômicos, materiais e técnicas construtivas, infraestrutura presente no território e as dinâmicas da atividade turística.
O segundo passo foi sistematizar os dados após o diagnóstico do local e uma elaborar análise do contexto, onde foram definidos os padrões de acontecimentos existentes no espaço.
Assim, foi feita uma análise das dimensões da sustentabilidade ambiental, social, econômica e cultural, segundo Andrade, 2014. Com os dados obtidos e a análise das dimensões de sustentabilidade foram elaboradas soluções na forma de códigos ou padrões que surgem a partir dos problemas relatados pela comunidade e soluções propostas pelas pessoas no processo participativo. A metodologia de padrões criada por Alexander et al. (1977) descrita em seu livro Uma Linguagem de Padrões (1977), se baseia no levantamento das problemáticas locais para a criação de soluções na forma de padrões, específicos para cada contexto.
A partir do levantamento das técnicas e materiais utilizados tradicionalmente pelos locais foram escolhidas as melhores soluções arquitetônicas para o projeto. O conhecimento tradicional deve se fundir ao conhecimento do pesquisador para resultar em uma arquitetura que melhor se adeque ao contexto, evitando, assim, perda de material, gastos desnecessários e técnicas construtivas inadequadas ao meio em questão. 
Como visto a pesquisa e o projeto não se dão de forma linear, mas se interconectam e acontecem de forma simultânea juntamente com a participação popular. O entendimento do contexto se dá na medida em que a aproximação com a comunidade é feita, para então surgirem respostas às questões levantadas.
Com isso, espera-se que não apenas o território se altere com a readequação do espaço e a instalação de equipamentos comunitários, mas que os laços entre os moradores sejam reestabelecidos e reforçados, unindo mais ainda a comunidade a partir do processo participativo.

 

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